Estou reinaugurando um cantinho do meu blog que considero muito especial e que estava meio esquecido. Um espaço onde convido pessoas queridas e competentes que influenciaram e influenciam minha formação como profissional da Educação e que, da mesma forma, possam auxiliar a todos os leitores do "Utilizando as Mídias na Educação"
Fellow Ashoka desde 2013, máster em Educação, Família e Tecnologia pela Universidade Pontifícia de Salamanca – Espanha, cursou Design Thinking no Centro de Inovação e Criatividade da ESPM-SP, tem pós-graduação em Gestão de Processos Comunicacionais pela ECA-USP e graduação em Jornalismo. Co-fundadora e Diretora-executiva do Instituto Educadigital, atua na área de educação e tecnologia desde 2001.
Fernanda Tardin: O
que são Objetos Digitais de Aprendizagem – ODAS’s?
Priscila Gonsales: São recursos educativos produzidos para uma finalidade de
aprendizagem, geralmente um determinado conteúdo ou desenvolvimento de
habilidades e competências cognitivas. Normalmente são disponibilizados na
Internet para acesso. No site Escola Digital o educador pode fazer
uma ampla busca de ODAs por tipo de mídia, disciplina, temas, dentre outros
filtros. Vale destacar nesse site a opção “Para Criar” que reúne uma série de
sites/ferramentas que permitem a criação pelo usuário.
Fernanda Tardin: Em sua opinião qual é
o papel dos recursos digitais no processo de ensino-aprendizagem? E quais
os maiores desafios da Educação na Cultura Digital?
Priscila Gonsales: Com intencionalidade pedagógica,
qualquer recurso – digital ou não – pode ser utilizado no processo de ensino e
de aprendizagem. Como hoje temos presente em nossa sociedade uma cultura
digital, que permite a todas as pessoas criarem e compartilharem informações,
conhecimento e cultura, é fundamental que consideremos aprendizagens novas e
próprias dessa cultura: pesquisar e avaliar informações, colaborar e se
comunicar, publicar e tornar-se autor. Professores e alunos precisam produzir
mais seus próprios recursos e consumir menos recursos prontos – de editoras, de
empresas de software.
Fernanda Tardin: Quais orientações você
daria para os professores que querem utilizar esses recursos obtendo resultados
significativos?
Priscila Gonsales: Nesse
contexto, a pesquisa TIC Educação 2013 trouxe pela primeira vez um dado
muito interessante sobre uso de conteúdos digitais que mostra uma
tendência de conquistar autonomia na preparação de aulas e atividades. Na rede pública, 96%
dos professores usam recursos educacionais disponíveis na Internet para
preparar aulas ou atividades com os alunos. Os tipos de recursos mais
utilizados são imagens, figuras, ilustrações ou fotos (84%), textos (83%),
questões de prova (73%) e vídeos (74%). O uso de jogos chega a 42%,
apresentações prontas, 41%, e programas e softwares educacionais, 39%.
A pergunta que fica é: Será que
esses recursos digitais estão sendo usados em novas metodologias e práticas ou
ainda reproduzem o formato de transmissão centralizada? Um ponto que a pesquisa
destaca é a baixa quantidade de publicações de recursos educacionais por professores,
ou seja, profissionais que são autores de conteúdos educacionais e que
compartilham na rede. Apenas 21% dos professores de escolas públicas já
publicaram na Internet algum conteúdo educacional produzido para utilizar em
suas aulas ou atividades com os alunos.
A orientação que eu daria é planejar. Listar os objetivos que deseja
alcançar e traçar possibilidades de acompanhamento desse processo, sem esquecer
detalhes como: Houve entrosamento do grupo? Aumentou a motivação e a
colaboração? Se a produção escrita é parte importante do trabalho, em que
momento ela pode aparecer? É possível integrar com alguma outra disciplina? E,
claro, registrar e registrar.
Aprender a pesquisar, por exemplo, é uma aprendizagem muito importante,
dada a quantidade de informação disponível online. É, também, fundamental
aprender a avaliar um site, a comparar informações. Outra aprendizagem é o
uso responsável da tecnologia e como construir uma identidade digital
coerente com o que se pensa e se pratica.
Fernanda Tardin: Qual
a sua opinião em relação à formação tecnológica dos professores nos dias de
hoje?
Priscila Gonsales: Existe um abismo muito grande entre as
faculdades de licenciatura e pedagogia e a questão do uso pedagógico das
tecnologias digitais. Futuros professores precisam acompanhar ações interessantes
em escolas que já estejam acontecendo. Precisam participar de eventos de
tecnologia e inovação, mesmo que não estejam totalmente relacionados à
educação. Buscar refletir como praticar os preceitos dos grandes educadores
como Paulo Freire, Anísio Teixeira, Freinet e tantos outros, nos dias de hoje.
É preciso valorizar o professor como autor de seus projetos e materiais
pedagógicos. Valorizar as trocas entre professores também é importante. Elas
são muito eficazes para resolver desafios cotidianos de sala de aula. Outro
ponto é estimular o uso de Recursos Educacionais Abertos (REA): vídeos, textos,
jogos, sites, dentre outros que estão disponíveis online por meio de uma
licença aberta, que permite a livre cópia, distribuição e adaptação conforme a
demanda e o contexto da escola.
Fernanda Tardin: Fale um pouco sobre
sua experiência no Instituto EducaDigital:
Priscila Gonsales: O contexto atual, não só no
Brasil, mas em todo o mundo, envolve o desafio de integrar – ou mais
efetivamente, impregnar – as tecnologias digitais ao currículo de forma
qualitativa e trazer de fato a cultura digital para a escola e demais espaços
de aprendizagem (sejam eles formais ou informais). Desafio esse que passa, em
primeira instância, pela formação inicial e continuada de docentes e,
simultaneamente pela incorporação de tendências que já fazem parte do cotidiano
da sociedade conectada, tais como: personalização de uso, práticas
colaborativas em redes digitais, adoção crescente de celulares e computadores
móveis, e preferência por softwares livres e conteúdo aberto.
Desde
2010, o Instituto Educadigital tem desenvolvido estudos, pesquisas, formações e
projetos focados no uso pedagógico da Internet a partir de práticas educativas
inovadoras, que valorizem a atividade reflexiva, atitude crítica e a conquista
da autonomia, visando o desenvolvimento pleno do ser humano.
Nossa especialidade é a
concepção e o planejamento de ações e projetos de cultura digital na educação a
partir de cinco áreas estratégias que se inter-relacionam de acordo com o foco
do projeto ou da iniciativa a ser desenvolvida.
São elas:
Educação Aberta – essa é a
nossa causa, ou seja, acreditamos na partilha de boas ideias, conteúdos e
informações que a cultura da Internet traz, marcada pela colaboração e pela
interatividade.
Design Thinking para Educadores – abordagem centrada nas pessoas que busca
soluções inovadoras por meio da cocriação de ideias.
Formação e Facilitação Pedagógica – formar educadores significa estimular a
autonomia, a reflexão e a troca de experiências sobre a prática docente.
Gestão e Curadoria – planejamento e execução de projetos e eventos educacionais
coerentes com nossa proposta de atuação.
Comunicação em Redes e Narrativas Digitais – apoiamos outras ONGs, organizações
e empresas a planejar seus processos de comunicação por meio de linguagens
multimídias.