Convidei a querida Débora Sebriam para participar do meu "Cantinho das Entrevistas" aqui no blog. Pois conhecendo um pouquinho do seu trabalho, tinha certeza do muito que poderia contribuir para o meu aprendizado e de todos os leitores do Utilizando as Mídias na Educação.
Débora Sebriam é Mestre em Engenharia de Mídias para
a Educação, integrante da equipe de Tecnologia Educacional do Centro
Educacional Pioneiro, gestora de redes sociais do Grupo de Estudos Educar na
Cultura Digital e Instituto EducaDigital.
A entrevista foi realizada por e-mail.
Fernanda Tardin: Sabemos que a simples utilização da Tecnologia na Educação sem mudanças inovadoras na metodologia, não trará mudanças significativas ao aprendizado. O que diria aos professores nesse sentido?
Débora Sebriam: É
fato que os tempos mudaram, a tecnologia está incorporada na vida das pessoas.
Todos fomos “obrigados” a nos adaptar as novas demandas e com a educação não
deve (ou não deveria) ser diferente. É importante ter em mente que uma aula
tradicional tendo a tecnologia como meio dificilmente despertará o interesse e
engajamento dos alunos. Diria aos professores para se desapegarem de velhas
práticas e focarem na produção, trabalhar na perspectiva do aluno como autor.
Estar atento as mídias que os alunos tem acesso e estão inseridos é um bom
começo. À partir do momento que os alunos tem um problema para resolver em
equipe, o processo é significativo e o engajamento é natural. Desta forma,
saímos do velho esquema de centralização no professor e o foco passa a ser o
aluno. Professores e alunos devem ser parceiros da aprendizagem!
Fernanda Tardin: “Redes Sociais são utilizadas
como estratégia de ensino por professores.” O que pensa a respeito? As
chamadas redes sociais tem se mostrado espaços de grande potencial
pedagógico.
Débora Sebriam: Temos
vários exemplos no ensino superior do uso das redes sociais como mais um espaço
educativo que dá certo! Podemos citar o exemplo da universidade que ofertou um
curso inteiro pelo Facebook, ou o caso do professor que usou o Twitter para
driblar a greve na universidade, onde todos estavam impedidos de acessar o
campus. Estes exemplos se tornam escassos quando pensamos no ensino básico. No
caso particular da Educação Básica, sabemos que as crianças e adolescentes cada
vez mais cedo ocupam estes espaços, e também sabemos que o objetivo principal
deles ao fazer parte destas redes é o relacionamento e o lazer. Propor atividades pedagógicas
dentro de um espaço que é uma linguagem natural destes jovens pode ser muito
interessante, mas acho que algumas precauções devem ser tomadas:
- É
importante decidir junto com os alunos a proposta, eles devem se sentir integrados,
confortáveis e desafiados a experimentar novas formas de aprender.
- Outra
questão, é não esquecermos que somos escola, e portanto, acho importante
respeitarmos a idade mínima de classificação para o acesso as redes. Uma
coisa é uma criança menor de 13 anos ter o consentimento dos pais para
usar espaços como Orkut e Facebook, outra coisa é a escola, enquanto
instituição, ignorar estas regras.
- Aconselho a todos os professores que
decidirem se aventurar por esses novos campos de experimentação pedagógica
criar um perfil “profissional”, ou seja, um perfil específico para atuar
com os alunos neste espaço, particularmente, sou contra misturar o perfil
pessoal do professor com os alunos nas redes sociais. Imagine seus alunos
adolescentes comentando suas fotos da praia, das festas que você
frequenta? As pessoas tem uma certa tendência de divulgar muitas
informações pessoais e privadas nas redes sociais e qualquer descuido pode
gerar um enorme desconforto.
- É a primeira vez que sua turma vai usar redes sociais para aprender? Vejo aqui uma excelente oportunidade para se introduzir trabalho com exemplos de bons e maus usos das redes. Faça uma pesquisa e veja o que já foi realizado com a rede que você escolheu, selecione os bons exemplos, como campanhas de doação de sangue, campanhas contra a corrupção, exemplos de uso pedagógico e também apresente “casos” do mau uso das redes e suas consequências. Todos os dias temos novas notícias de pessoas que extrapolaram o bom senso, que ofenderam outras pessoas, que incitaram o ódio, etc. Trabalhar o uso seguro das telas digitais cabe em toda e qualquer disciplina do currrículo escolar. Tenho trabalhado com meus alunos usando esta dinâmica e os resultados são muito motivadores, eles se interessam, tem oportunidade de falar, de refletir e de debater com seus iguais. Aqui eles estabelecem as regras!
Sei
que estou parecendo pessimista, mas não é nada disso! Acredito que as redes
sociais são espaços dinâmicos e propícios para o desenvolvimento de atividades
pedagógicas. Acho que temos um campo aberto para experimentar, errar, trabalhar
o erro, acertar e compartilhar estas experiências.
Fernanda Tardin: Muitas pessoas associam o uso de
jogos educativos e outros recursos midiáticos a “bagunça”, “falta de
conteúdo”, “brincadeira”, “irresponsabilidade”. Quais as suas
ponderações sobre a questão?
Débora Sebriam: Este
é um mito que acredito estar sendo quebrado, entretanto, muitas pessoas pensam
assim e se analisarmos mais profundamente, a escola tem como triste histórico
separar a aprendizagem do prazer! É fato que muitos pais e professores tem em
mente que os games são mero passatempo, que servem para ocupar tempo livre e
alguns os veem como catalisadores de violência.
Façamos
uma analogia, os jogos tradicionais e os games eletrônicos são construídos com
os mesmos elementos estruturais (cenários, estratégia, regras, objetivos, etc),
entretanto, as brinquedotecas são bem aceitas e apreciadas dentro de uma
instituição escolar, já os games eletrônicos é outro departamento. Agora pense
na cultura digital e a grande barreira ainda existente para entrada de
tecnologia na escola. Pensou? Pois então, acho que estes conceitos estão
interligados, mas é pura opinião pessoal.
Na
minha opinião, os games, sejam eles classificados como educativos ou não, tem
grande potencial pedagógico, mesmo aqueles que apresentam cenas fortes de
violência, o que importa é sua proposta de uso. Evidentemente, ao escolher um
game para desenvolver uma atividade pedagógica, é preciso ter claro quais os
objetivos a serem atingidos, qual o tipo de avaliação que será empregada e se o
conteúdo do game é adequado a idade da sua turma. Um game pode ser usado de
diversas formas, você pode fechar um conteúdo específico como forma de
feedback, é possível também iniciar e desenvolver todo um assunto com um game
ou vários games intercalados, tudo depende do seu planejamento.
Os
games oferecem como vantagem o engajamento natural dos alunos com este tipo de
interface, promovem improvisação e descoberta, desafio, o desenvolvimento de
estratégias, interação, participação, colaboração, aprendizagem com o erro,
aprendizagem lúdica, imersão.
É
importante ter em mente que os games são narrativas exploradas pela maioria das
crianças e adolescentes e isso se dá independente de nível sócio-ecônomico!
Você não joga somente usando os famosos (e caros) consoles ou os vídeogames
portáteis. É possível jogar online no seu computador, nos tablets e também
pelos celulares/smartphones. Notem que quando pensamos em games temos a opção
de jogar em diferentes telas digitais e pelo menos uma delas o brasileiro
possui em larga escala e cada vez mais cedo, falamos aqui dos celulares! Vejo
uma gama enorme de possibilidades educacionais.
Fernanda Tardin: Quais as características
essenciais de um professor de sucesso, nos dias atuais?
Débora Sebriam: Eu acho que o professor de sucesso é
aquele que se considera e age como eterno aprendiz! Foi-se o tempo em que o
professor era a fonte de conhecimento e informações. Atualmente, nós temos
novos desafios e na minha opinião um novo papel social.
Fernanda Tardin: Em sua opinião quais as
principais orientações que os estudantes precisam receber, dos professores
e responsáveis, em relação a sua segurança na internet?
Débora Sebriam: Este
é um tema super importante e muitas vezes esquecido ou simplesmente ignorado
pelas escolas. Acho que este tema deveria ter lugar privilegiado nas
instituições de ensino, assim como, penso que as famílias têm que despertar
para a importância de orientar seus filhos e não transferir a responsabilidade
toda para a escola. Mas como educar para o bom uso das telas digitais quando
não sabemos como intervir, seja por falta de formação ou conhecimento sobre o
assunto? Vou tentar dar algumas dicas baseada na minha experiência.
Atualmente,
desenvolvo no Centro Educacional Pioneiro (escola particular de São Paulo) o
projeto Comportamento, Segurança e Ética
na Internet. Este projeto teve início em abril de 2011 e está estruturado
em 3 fases:
- Fase 1: sensibilização (debates com alunos,
professores e pais)
- Fase 2: produção de conteúdo (alunos autores criarão
cartazes, folders, blogs, vídeos, sites e todo tipo de mídia da ESCOLHA DELES sobre o assunto)
- Fase 3: disseminação (estamos estudando licenciar
todo material em Creative Commons e compartilhar na rede)
Nós
completamos a fase 1 este ano, integrando e chamando a participação toda a
comunidade escolar: alunos, professores e famílias! Esta fase se baseou no
debate, eu trouxe exemplos e questões norteadoras adequadas a cada faixa
etária, nesta fase todos tinham o direito a palavra, a esboçar suas opiniões, o
conhecimento foi construído colaborativamente. Vejam que é muito diferente de
dar uma palestra, nosso processo não é unilateral e nem centralizador, ele é
baseado no grupo e no compartilhamento!
Nestas
dinâmicas que chegaram a durar 3 horas seguidas sem que ninguém sequer
esboçasse vontade de ir embora, nós falamos sobre alguns temas gerais como:
- Compartilhamento
de dados pessoais,
- Privacidade,
- Mundo
real x mundo virtual,
- Comportamento
nas redes sociais,
- Compartilhamento
de imagens e vídeos,
- Videogames
e games online,
- SMS,
- Sexting,
- Uso
da Webcam,
- Ciberbullying,
- Cidadania
online.
Para
introduzir todos estes assuntos trabalhei com a linguagem dos alunos: o Internetês. Pesquisei os “memes” e “virais” que os alunos tanto falam pelos corredores, editei um vídeo
com as pessoas (crianças, adolescentes e adultos) que cairam nas redes por
descuido ou vontade própria e trabalhamos com exemplos práticos que ocorreram
nas redes socias e conhecidos de todo adolescente conectado. Fizemos o
exercício de nos colocar no lugar do outro e pensar sobre nossos sentimentos em
relação as situações abordadas para trabalhar questões como respeito, ética e
solidariedade, assim como, falamos das vantagens e perigos ocultos nas
interfaces e ferramentas mais usadas por eles. Também consultei profissionais
ligados a segurança da informação e advogados para tabalhar desde o ponto de
vistas das leis, todo esse contato se deu de forma voluntária através das redes
sociais, mas sempre integrado aos exemplos práticos trabalhados com os alunos,
professores e pais.
Para
chegar a este modelo consultei materiais pré-fabricados que trazem informações
gerais e que aconselho a todos que precisam de informações iniciais sobre o
assunto, como:
Cartilha
da Safernet: http://www.safernet.org.br/site/prevencao/cartilha/safer-dicas
Internet
Responsável: http://www.internetresponsavel.com.br
Criança
mais Segura: http://www.criancamaissegura.com.br/cartilhas.php
Proyecto Centinela: http://www.proyectocentinela.com/
Pantallas Amigas: http://www.pantallasamigas.net/
Miudos
Seguros na Net: http://miudossegurosnanet.blogs.sapo.pt/
Acho
que não existe receita de bolo, faça uma pesquisa inicial com seus alunos,
descubra as redes e ferramentas que usam e participam, descubra com eles o que
é assunto no momento e porque eles se interessam por eles, trace o perfil sobre
quem é seu aluno no mundo digital e o que eles consomem e produzem, integre-se!
Acho que este é o melhor ponto de partida.
Para
quem quiser saber mais sobre o meu projeto ou quiser trocar informações é só
entrar em contato.
Fernanda Tardin: Fale um pouco sobre seu
envolvimento com o Grupo de Estudos Educar na Cultura Digital.
Débora Sebriam: Considero
o Grupo de Estudos Educar na Cultura Digital um marco na minha carreira e na
minha vida. Eu tinha poucos meses de atuação com tecnologia educacional, muitas
ideais, muita produção e uma necessidade absurda de debater e compartilhar com
meus pares. Foi no Grupo de Estudos que eu encontrei este espaço e as pessoas
que tinham os mesmos anseios, dúvidas, medos, motivações, foi da minha troca
com este grupo de pessoas incríveis que nasceram grande parte dos meus
projetos. No Grupo de Estudos todo mundo tem voz, desde a pessoa que está
começando a trilhar seu caminho no mundo da cultura digital até às que têm mais
experiência. Essa troca é muito rica, motivadora e realmente muda as pessoas em
relação ao seu trabalho, em relação ao entendimento do que é ser professor em
tempos de cultura digital. Atualmente eu faço parte da equipe, sou a mediadora
de redes sociais e considero uma honra enorme fazer parte de um projeto tão
incrível como este. Convido a todos para conhecerem e participarem!
Conheça um pouco mais sobre o trabalho de Débora Sebriam:
Canais
Twitter: @deborasebriam
Facebook: https://www.facebook.com/deborasebriam
Slideshare http://www.slideshare.net/deborasebriam
Grupo de Estudos Educar na Cultura Digital: http://www.educared.org/global/educarnaculturadigital/grupo-de-estudos
Atuo em sala de informática educativa na rede municipal de Belém e navego em busca de blogs que tragam conteúdos que me ajudem, de alguma forma, a melhorar minha prática em sala de aula. Neste blog encontrei coisas muito interessanetes. Agora estou pesquisando material para uma trabalho sobre segurança na internet e os links apresentados na entrevista são maravilhosos!!
ResponderExcluirParabéns pelo excelente blog!já o coloquei na minha lista de preferidos.
marciamescouto.blogspot.com
Olá, Márcia!
ResponderExcluirPrimeiramente, obrigada pela visita e por seu comentário carinhoso.
Fico muito feliz em saber que estou contribuindo para aprimorar sua prática através das postagens do blog.
Realmente os links indicados pela Débora são excelentes. Visite também o blog dela, o Internetando, você vai encontrar muito coisa sobre o assunto por lá.
Volte sempre!
Bjs...