Meu entrevistado de hoje é Claudemir Edson Viana, Doutor em Comunicações pela USP sobre Jogos digitais e Internet no cotidiano infantil. 16 anos de envolvimento em projetos sobre Comunicação e Educação.
Gestor do Projeto Minha Terra, Rede Social (comunidade virtual de aprendizagem do Programa Educarede - Fundação Telefônica) que utiliza as TICs no processo de educação para o desenvolvimento sustentável e que envolve mais de 9.000 participantes, alunos e educadores, de escolas públicas de todo Brasil.
Meu contato com Claudemir foi via Twitter e a entrevista por e-mail.
Fernanda Tardin: Qual a sua opinião em relação à formação tecnológica dos professores nos dias de hoje?
Claudemir Viana: A formação tecnológica dos docentes, em todos os níveis de ensino, ainda é muito precária. Na verdade, quando ocorre é, geralmente, decorrente da própria iniciativa do profissional que, como usuário comum, explora as diversas ferramentas da informática, e, principalmente da web 2.0, e vislumbra e experimenta a inserção delas em suas práticas docentes; ou então, dos programas de formação continuada e treinamentos promovidos por suas instituições de ensino ou órgãos públicos responsáveis e algumas iniciativas como de ONGs e outros. É o caso, por exemplo, do Portal Educarede, que oferece diversas oportunidades a todos, não só docentes mas em particular para estes, de conhecer mais e melhor sobre o mundo web, suas implicações no cotidiano de todos, e, especialmente, de promover a reflexão dos educadores sobre isto e orientá-los para a incorporação de uma cultura digital em suas práticas pedagógicas. Infelizmente, os cursos de formação superior para educadores como os cursos de pedagogia e licenciatura, na sua imensa maioria, não promovem a mínima preparação deste profissionais para a reflexão crítica sobre a cultura midiática existente no cotidiano de todos (de si mesmo e de seus futuros alunos), muito menos para a incorporação positiva destas mídias e suas linguagens em suas práticas pedagógicas.
Fernanda Tardin: Gostaria que você fizesse uma análise do paralelo - Professores X Tecnologias X Alunos
Claudemir Viana: Entre professores e tecnologias, na maioria dos casos, ainda cabe o X, ou seja, "versus"; esta é a imagem mais comum que se encontra entre os educadores. Isto é, a maioria dos educadores ainda enxerga as tecnologias (todas, não só as da web) como um empecilho, um incômodo desafio, e até mesmo um concorrente em relação à sua prática profissional.
Já entre Alunos e Tecnologias não cabe o X neste mesmo sentido de "versus". Caberia mais o símbolo de "=", pois que os jovens e as crianças convivem naturalmente com elas e, mesmo quando não conhecem alguma tecnologia, não manifestam uma atitude de defesa ou resistência à ela. Muito pelo contrário, não têm medo de experimentar, de interagir e, com isso, incorporar e aprender a utilizá-las. Entretanto, isto não significa um uso crítico e amplo das tecnologias pelos jovens e pelas crianças, de forma positiva para si mesmo ou para o seu grupo social e o coletivo. Daí porque é fundamental a mediação da escola e de seus profissionais da educação quanto à presença e ao uso das diversas tencologias de informação e comunicação (sobretudo) no cotidiano deles e dos seus amigos e familiares. Diria mais, esta mediação educativa é de total responsabilidade profissional e social da comunidade escolar e das políticas educacionais das instituições e dos órgãos públicos responsáveis.
Fernanda Tardin: Poderia enumerar alguns benefícios obtidos através da utilização de recursos midiáticos nas escolas?
Claudemir Viana: Primeiramente, a promoção entre os educadores e, principalmente entre os alunos, de habilidades para a leitura e incorporação dos signos particulares às linguagens das diversas mídias, principalmente as comerciais que constituem a cultura midiática presente na vida de todos. Com isso, em seguida e simultaneamente, a possibilidade de desenvolver a capacidade de exercer leituras críticas destas linguagens e de seus conteúdos, inclusive para exercer uma prática cidadã potencializada pelas habilidades exigidas para interação com a sociedade através do uso destes recursos e, com isso, exercer uma interferência social com maior eficiência.
Outro aspecto é relacionado à prática pedagógica. Com a utilização dos diversos recursos midiáticos em suas práticas educativas, os educadores podem tornar suas aulas mais interessantes e úteis na medida em que ampliam a gama de linguagens e conteúdos a serem apresentados e explorados por si mesmo e pelos seus alunos. Entretanto, para isso ser positivo é fundamental ocorrer uma prática pedagógica através de planejamentos e metodologias adequadas que considerem a relação dele com o conteúdo em estudo e com seus alunos como sendo dialógica, ou seja, considerando seus alunos como sujeitos da aprendizagem, co-autores da produção de sentidos e significados sobre os conteúdos, e não como meros espectadores. Por tanto, ao falarmos de tencologias na educação é preciso primeiro tratarmos sobre as metodologias de ensino adequadas para a promoção de aprendizagens significativas para os educandos, com ou sem o uso de tecnologias em questão. Aí sim, é possível avançar de forma profissional sobre os usos adequados delas nos processos de ensino e aprendizagem.
Fernanda Tardin: Quais os maiores obstáculos para a utilização das Tecnologias na Educação?
Claudemir Viana:
A formação dos profissionais de educação e as políticas educacionais, sobretudo das instituições de ensino, que não consideram, ou não o fazem de forma adequada, a utilização das tecnologias nos processos de ensino e aprendizagem;
A prática pedagógica dos docentes que em quase nada exploram elementos da cultura digital já presentes no cotidiano deles mesmos e de seus alunos, ou, muito menos, avança no sentido de conhecer e explorar os elementos desta cultura ainda desconhecidos pelos sujeitos em questão, educadores e educandos;
Políticas de formação (inicial ou continuada) dos docentes que ainda apresentam uma abordagem instrumentalista quanto à incorporação das tecnologias na educação; ou seja, que têm no centro da questão a tecnologia em si (seus suportes e suas linguagens), e não o principal, isto é, as culturas decorrentes de seus usos, as metodologias de ensino mais adequadas, e os processos de aprendizagem particulares aos usos positivos das tecnologias disponíveis no processo educativo.
Fernanda Tardin: Qual orientação você daria aos professores no sentido de ajudá-los a utilizar essas tecnologias a favor da aprendizagem?
Claudemir Viana: Primeiro, não ser resistente a elas. Explorar, mesmo que inicialmente de forma particular/pessoal, as tecnologias disponíveis, pois assim iniciará seu processo de conhecimento a respeito delas e para que podem servir.
Em segundo lugar, que é muito importante, conhecer o que seus alunos sabem e usam das tecnologias, sobretudo as relacionadas à cultura digital e em rede (web). E, decorrente disso, aprender com eles!!!! Aliás, isto é um processo muito frutífero para a relação aluno-professor, pois que aprender com seus alunos faz com estes valorizem e respeitem o que podem aprender com seus professores. Por outro lado, é uma forma do professor aprender aspectos mais práticos quanto às tecnologias e seus usos para, posteriormente, vislumbrar suas aplicações de forma mais adequada ao processo de ensino cujos planejamento e práticas são de sua responsabilidade, visando aprendizagens mais amplas e aprofundadas (críticas) sobre as linguagens destas tecnologias e sobre os conteúdos veiculados por elas .
Em terceiro lugar, estar atento e aberto às oportunidades de fazer cursos (livres, de capacitação continuada, de aperfeiçoamento) a respeito, e também de trocar e aprender com colegas de profissão que tenham maior experiência com isso.
Por fim, e não menos importante e de forma simultânea às ações anteriores, é não ter medo de conhecer, experimentar e explorar as tecnologias, sobretudo as da comunicação e interação em rede (web), inclusive em suas práticas pedagógicas. Mesmo que inicialmente o planejado não aconteça a contento, persistindo nesse objetivo é que o educador se tornará um profissional mais qualificado e coerente com sua função numa sociedade contemporânea onde a presença destas tecnologias exige uma formação para e por estes meios, visando uma cidadania condizente com o meio social no qual vivemos e viveremos.
Fernanda Tardin: Fale um pouco sobre as principais redes sociais e como elas podem ser trabalhadas pelos professores nas salas de aulas.
Claudemir Viana: Bem, em princípio, as mais populares devem fazer parte do objeto e meio de estudos dos professores, como o facebook, o orkut, o twitter, assim como os suportes tecnológicos que permitem o usos delas (computadores, internet, celulares, filmadoras digitais etc). Mas, é importante estar atento para saber o que seus alunos usam, o que as pessoas usam, como e para que usam, e as novidades que a todo momento surgem quanto às tecnologias de informação e comunicação. Só assim, os professores poderão escolher de forma mais consciente e positiva o que seria útil para sua prática pedagógica e em razão dos objetivos políticos e dos conteúdos curriculares a serem trabalhados em sala de aula.
Cada ferramenta de redes sociais tem suas características particulares que, ao serem conhecidas pelo educador, poderão ser exploradas por este em suas práticas pedagógicas em razão dos objetivos educativos e dos conteúdos curriculares a serem trabalhados. Mas, na essência, o uso de qualquer rede social prescinde de projetos pedagógicos calcados nas produções colaborativas e na socialização de seus produtos que, por sua vez, devido às características das redes sociais, viabilizará novas colaborações inclusive e principalmente de pessoas/instituições de fora da comunidade escolar.
Conheça um pouco mais o trabalho de Claudemir Viana:
facebook: claudemir viana